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Não se mate

sábado, 7 de maio de 2011


Essa é a poesia. Selecionei há tempos, para o dia do meu aniversário. Data despercebida assim, mas bem percebida pelo gauche da vida, para mim. Semana cheia, dias cheios de nada sem tanto. Drummond, é com você, meu caro. O Carlos mais Anderson do mundo, saiba: em relação a você, minhas palavras são as mais descabidas desse planeta mudo.

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.


Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.


O amor, Carlos, você é telúrico,
a noite passou em você,
e os reclaques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.


Entrentanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas que se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
niguém sabe nem saberá.

Ou em algum mundo particular, Anderson,
talvez deva assim te buscar.