Páginas

Memorial Padre Cícero

quinta-feira, 22 de abril de 2010


Estive acompanhando de perto as crônicas do aclamado biógrafo do Padre Cícero, Lira Neto, jornalista e escritor, que lançou, no ano passado, o livro Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão. Todas as sextas-feiras, no Caderno 3 do Diário do Nordeste, Lira também nos presenteia com suas "crônicas da aldeia", como ele mesmo intitula seus escritos. Acontece que, na semana passada, ele publicou um texto que chama a atenção para a situação de calamidade no Memorial Padre Cícero, local que guarda preciosos documentos históricos de Juazeiro do Norte e, evidentemente, a história do Ceará para o mundo.

Vale a pena ler o texto na íntegra, em seu site pessoal, clicando aqui.

Meu comentário: ler uma crônica dessas me dá uma trava na garganta. É repugnante o descaso público para com a história e memória, no geral. Em particular, para o meu adorado Juazeiro do Norte. E agora discutem a mudança do nome da nossa cidade de Juazeiro do Norte para Juazeiro do Padre Cícero, enquanto que nosso "Joaseiro", simplesmente, está perdendo documentos históricos em seu Memorial - localizado no coração da cidade - e quer perder até a originalidade de sua própria história. A única intriga com o nome da minha cidade natal era que eu, quando criança, pensava: "Juazeiro é do Norte é porque está no norte do Brasil, mas também é do sul do Ceará." Pronto! A divagação do nome da cidade devia acabar nesse pensamento infantil e ponto final. Mas parece até piada chegar a discutir mudança de um nome quando temos problema seriíssimos a resolver... Como se ninguém soubesse que Padre Cícero está para Juazeiro do Norte assim como a Torre Eiffel está para Paris. Que tal mudar o nome de Paris para: "Paris da Torre Eiffel"? Acho que os políticos parisienses devem ter coisas mais importantes para se preocupar, mesmo com o Museu do Louvre intacto, sem goteiras em suas preciosas peças históricas. Então, vamos esperar iniciativa do poder público até quando? Infelizmente, Juazeiro do Norte ou Juazeiro do Padre Cícero ou Joaseiro, enfim, qualquer um desses nomes para uma mesma cidade, parece caminhar ao progresso remendando seus defeitos com cola Durepox®.

Por falar em Memorial Padre Cícero, lembrei-me de uma romaria em 1° de novembro de 2004, quando eu e alguns de meus amigos camaradas saímos para conferir a romeirada no epicentro da fé dos romeiros do padre Cícero. Ali, pertinho do Memorial, fica a Igreja do Socorro, onde está sepultado Cícero, e ponto crucial para visitação de seus fiéis devotos.

Esse dia com a turma foi memorável. Saímos todos de camisas vermelhas munidos de gravadores para entrevistar os romeiros de maneira amadora, e câmera digital. Detalhe: câmera digital nesse tempo era tecnologia de ponta. Apesar de termos saído para tentar sermos cômicos, fizemos um valioso registro da época com as fotos e gravações. Batemos fotos de romeiros que, em pleno sol de meio dia, tiravam sua sesta em camas improvisadas com papelões nos arredores do Memorial. Também entrevistamos pessoas simples, humildes e acolhedoras naquela lugar, como vendedores de chapéu de couro, de rapadura, de terços, de santos de gesso, de peças de madeira que reproduzem a anatomia do corpo e de imagens emolduradas do Padre Cícero e de (outros) santos.

Num dos lados do Memorial, romeiros buscam uma sombra para descansar.


Improviso é marca registrada da nação romeira. Colchonetes de papelão ou de toalha são convidativos em meio ao tórrido sol de novembro em Juazeiro do Norte.


Pertinho do Memorial, está a Igreja do Socorro, com a imagem do padre Cícero devidamente colocada do lado de fora da igreja, já que ainda espera reabilitação.


Marcas da fé. Romeiros que alcançam a graça por se curar de um problema em alguma parte do corpo, compram essas peças de madeira, em dívida de gratidão ao seu santo padre Cícero.


Em meio a fotos de Cícero e (outros) santos, nota-se a presença de "aclamados" artistas como Sandy & Junior.


Mesmo sendo uma de minhas primeiras fotos em câmera digital, achei que essa mereceria um prêmio, afora a humildade. Se fosse foto preto-e-branco em polaroid, talvez...


Esse vendedor de chapéus nos levou a boas gargalhadas. Simplesmente perguntamos: 'Como vão as vendas?'. Ele disse, repetitivamente, por um minuto inteiro, sem mudar de assunto: 'A gente vende, vende, vende... Vende mesmo.'


Tudo bem, entrevistar o 'Pano Branco' não deu em nada...
► Leia mais...