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Chico Anysio, mestre do humor

sexta-feira, 23 de março de 2012


Estava voltando hoje da faculdade quando escutei, em meio ao trânsito caótico da avenida Treze de Maio, o nome de Chico Anysio. Vinha de uma tevê, parei e li o rodapé: "Morre o mestre do humor..." Como bairrista, cearense que sou, senti por isso.


Da sua carreira, só peguei a ponta do iceberg da criatividade de Chico. Nas tardes infantes, assistia a Escolinha do Professor Raimundo, merendando Pipofloc's com Cajuína. Eram tardes deliciosas de infância, mesmo sem entender a maioria daquelas piadas prontas ou de segundo sentido. Mas achava engraçado aquele professor de cabelo branco e bigode, uma versão risível e penteada de Einsten que, com voz rouca, falava de salário baixo a cada final de programa. Inteligência crítica aliada ao humor. Coisa de gênio.


Talento é uma coisa rara, veja só. Se naquela época o fim da tarde era preenchido com bom humor, por vários artistas hoje memoráveis, hoje o que temos na grade de programação? Malhação? Ah, vá! Será uma bela recordação para os saudosistas de amanhã. Ironicamente falando, claro.


Ao assistir reportagens especiais do Chico hoje, parando pra ver sua trajetória, senti aquela trava na garganta, e ainda assim soltei risadas engasgadas com alguns de seus momentos. Me emocionei com seu legado. Humorista, ator, dublador, escritor, compositor e pintor. Um cearense, grande por natureza, que fez com seus duzentos e tantos tipos, o que o Ceará tem de melhor: o humor. Apesar de não ir nada muito bem. Aqui no Ceará, não vemos a resolução dos nossos problemas sociais e ganhamos um Acquario em troca disso. Fazemos piada.


Descanse em paz, Chico.


Sim, ele também pintava (Chico Anysio, exposição na LBV).
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Peças da Vida

sábado, 10 de março de 2012


            A vida nos prega peças. Tudo pode acontecer nela. O que idealizamos e nem imaginamos passa por seu crivo. Quem diria que hoje estaríamos do modo que estamos? Quem nos garante que as coisas ao nosso redor não poderiam ter outro sentido? São incessantes os giros da roda viva da vida. Nada fica suspenso.
            As decisões nunca seguem um fluxograma do que esperamos. Há cinco ou dez anos, não imaginaria estar fazendo o que hoje faço. Não imaginaria que as coisas tomassem esse sentido na minha vida em particular e, talvez, na das pessoas que me cercam. Faço essa pergunta a você: imaginaria que as coisas seguem um sentido lógico, que elas estão do modo que esperamos , impassíveis de erro, persistentemente inalteradas? O que você queria há uns anos, tem-se realizado profissionalmente e amorosamente? O que mudou? O que poderia ter mudado? E o melhor: o que poderia ter continuado?
            Nos prega peças, essa vida. Somos jogados num oceano de probabilidades, de desejos, de decisões e indecisões. Mergulhamos num Universo real, que às vezes pode ser surreal e que poderia ser paralelo. Acasos e ocasos. Ocasos e acasos. Não medimos o que aconteceu no passado que nos deu esse presente e não temos controle do futuro.
            Quem diria? Quem diria que hoje você estaria a mais de quinhentos quilômetros de casa? Que seu melhor amigo de infância estaria em outro estado? Que você teria amigos hoje morando no exterior? Que você não acompanharia de perto as mudanças na família? Que um amor que você já teve se esvairia de um modo bobo? Que você se sentiria só e inseguro diante das intolerâncias do mundo? Que você perderia entes queridos precocemente? Que você não ganharia o presente que você sempre quis? Quem diria, enfim, que você estaria hoje como está?
            Mais feliz? Bem! Mais ou menos? Lute!
            Pelo sim pelo não, apesar das peças da vida, das “pedras no caminho” de Drummond, “lute como um bravo”, como já disseram uns roqueiros californianos. Seja transparente nos seus valores, busque o que seu coração pede, sendo você mesmo(a). Lembre-se que um rapaz latino-americano vindo do interior cantou que, apesar de tudo ser proibido, “tudo é divino, tudo é marivilhoso” (ou que podemos contrariar isso) e que um argentino, que foi o cara mais latino-americano de todos, esbravejou que devemos “amadurecer sem perder a ternura”. Jamais.
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