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"Não importa"

sexta-feira, 28 de outubro de 2011


Há 20 anos, foi lançado o disco que mudou a minha vida. Chama-se Nevermind. Precisa dizer de qual banda é?

Uma capa tão intrigante quanto as músicas do disco.

Em comemoração a essa data especial, foi lançado em DVD um show memorável deles em Paramount, na cidade de Seattle, no Halloween de 1991, que estou assistindo nesse exato momento que vos escrevo. No ano desse show, eu estava com apenas uma copa do mundo de idade. Só fui descobrir Nirvana depois do fim da banda, depois que Kurt se suicidou (?) e depois que ele virou a lenda do rock.

Nirvana, Kurt Cobain... Substantivos que me remetem aos devaneios da juventude.

Cabe aqui contar a história de como descobri Nirvana e comecei a gostar de rock. Era final do século XX (falando assim parece até que faz muito tempo), quando meu irmão mais velho me presenteou com a exorbitante quantia em dinheiro de 50 reais. Nunca me esqueci desse fato. Um moleque com cinquenta contos na mão era que nem uma fortuna. Não sabia nem o que fazer. Fui ao centro da cidade, coração a mil, à procura de algo pra me presentear. Entrei numa loja de CD’s (algo bem diferente dos padrões de hoje). Eu não tinha gosto musical definido, poderia até ser que eu comprasse um disco de forró ou de pagode - que são coisas que escutamos por osmose em cidades do interior. Mas não! Naquele momento, me veio um estalo na memória. Um primo meu falava de bandas que, na minha alma curiosa, estaria pronto para desfrutar de seu som. Lembrei-me de um tal "Nirvana". Pedi ao atendente para me mostrar alguma coisa deles e, mesmo ele descrente de que venderia alguma coisa naquela tarde a um garoto com espinhas no rosto, trouxe o álbum com aquele "bebê-com-o-pinto-à-mostra-submerso-na-piscina-atrás-da-nota-de-1-dólar".  Nunca tinha escutado e nem pedi pra escutar lá na loja. Aliás, pedi mais outro álbum da banda. Saí de lá com troco no bolso e uma sacola na mão com o nervoso Nevermind e o suave acústico Unplugged In New York. Espécies de yin-yang de uma banda.

Até hoje entre os melhores discos que me acompanham.

Pronto. Foi o estopim pra estourar os fones do microsystem do meu irmão do meio. Era volume no máximo todo dia. Era Smells Like Teen Spirit, Come As You Are, In Bloom, Polly, Drain You... Nossa! Nevermind não tinha nenhuma música ruim! Pra acalmar os ânimos, deixava rolar o Unplugged e eu sentia um barato que não sentiria até então escutando músicas de outrora. A influência de Nirvana foi tão grande que, desde os tempos de mIRC até hoje, tenho e-mail com nick "nirvaneiro".

Foi o estopim também para se anarquizar um estilo de vida na adolescência. Cabelo grande assanhado, all star riscado e sonho de ser rock star. De querer tocar contra-baixo de maneira simples, de querer abrir a boca às indiferenças que fui descobrindo no mundo... Indiferenças essas que, até hoje, engolimos em seco.

Bem, mas falando de música, depois vieram os Red Hot Chili Peppers, Guns N’Roses, Ramones, Beatles, Police, Pink Floyd... Fui me ligando também no Rock Nacional de bandas criadas nos anos 80 e me apaixonando cada vez mais por música ao redescobrir o quão barato também é a MPB. Não sou muito ligado no que tem de novo, geração 2000, mas ficando com meus persistentes dinossauros do rock já está de bom agrado aos ouvidos.

Encerro esse texto aqui, no momento em que Kurt, Krist e Dave destroem seus instrumentos no palco e me dá uma vontade de praticar esse ato de vandalismo com aquele meu baixo de cordas enferrujadas encostado na parede do meu quarto. Mas lembro que tenho que estudar pra prova de faculdade e que isso não passa de resquícios de memória de um devaneio da juventude.

Bart, parodiando Nevermind, sem pinto à mostra, atrás de sua nota de 1 krusty.
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