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Bloco de notas

quarta-feira, 22 de junho de 2011


Esse foi o título que dei para um antigo álbum de fotos, na época do Orkut. Nele, postava arquivos escaneados de desenhos com caneta porosa preta em um pequeno bloco de anotações.

Eu simplesmente abria o caderno em uma página em branco qualquer, soltava a imaginação e começava a rabiscar. Fiz aqui um revival com alguns dos desenhos já postados antes, seguidos de suas antigas legendas. Reabrir esse velho bloco de notas com preto-no-branco me fez rememorar e dividir, com quem quer que seja que estiver lendo e observando, esses meus traços. 

Essas são algumas de minhas ideias aleatórias instantâneas transmutadas em papel e agora em kbytes de memória.


Para ver ampliado, clique na imagem desejada.

Blarght!

Construção da Sociedade

De Seu Êxito À Janela De Exit, Ou O Sentido da Vida

Dreamroom

O Que Todos Querem Por Querer

Palavra De Quatro Letras, Começando Com A Letra "A"

Política De M*rd@!

Recado Dado

Zzz
PS: Todos os desenhos acima são de minha autoria, sem nenhum Copyright. Pode plagiar à vontade. Criação não é coisa feita por um só. Tudo deveria - idealmente - ser de todos, sem apoderação nem custeio de nada por ninguém.
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Eu, os cachorros e uma gata

sexta-feira, 10 de junho de 2011



Na infância, naturalmente, simpatizamos com cãezinhos. E isso pode perdurar durante anos. Ou não.

Tenho boas e más recordações de meus bichos de estimação. Tive três cachorros, machos mesmo, porque sempre diziam que criar fêmeas dava um trabalho imenso. Faço uma ressalva afirmando que simpatizo em número e grau com fêmeas, a priori da espécie humana. A espécie feminina é a razão e o prospecto do viver masculino.

Mas vamos falar um pouco dos meus estimes cães e minhas estórias desoladoras precedidas de animadoras vivências. Meu primeiro cachorro se chamou Afi, criativo nome advindo das iniciais dos nomes da minha família. Nome cativante, não? Afi era um cachorro serelepe, tinha cor branca e inconsequentes pintinhas pretas. Não era um dálmata, era mais pra vira-lata mesmo. Sei que tinha um charmoso anel de pêlos pretos circundando seu rabinho sempre indo pra lá e pra cá. Esse meu primeiro animal de estimação me trouxe a alegria de viver em empatia pelos bichos. Morreu precocemente, sufocado em uma garrafa pet de meia banda. Trágico.

Meu segundo cão se chamou Ralph. Era da raça cofap, rebento de uma cadela de um amigo do meu pai. Foi um caso de simpatia. Seu pêlo marrom brilhante e rente possibilitava horas de brincadeiras. É que logo nesse tempo de infância, desenvolvi uma alergia precoce a pêlos de animais, uma típica bronquite juvenil. Ralph era enérgico, desbravador. Quando ele via as portas da casa abertas logo cedo, saia desembestado, sem destino. Um dia, eu indo pra minha escola primária, escutei um grunhido doloroso. Vi um caminhão passando pela rua e, lá atrás, estava Ralph, estendido e imóvel no chão. Estava acordado, ofegante, mas não se levantava. Eu, quando olhei, tive o impulso de pegá-lo em meus braços. Num ato de desespero, Ralph se jogou, tilintando em dor, e abocanhou minha bochecha. Até hoje, essa mordida deixou uma sutil marca próximo ao meu lábio superior. Mal sabia eu, naquele momento, que Ralph tinha sido atropelado pelo caminhão que eu tinha visto momento antes. Não havia sangue nele. Eram seus ossos que estavam bem machucados. Depois dessa, tomei vacina anti-rábica no bumbum. Ralph, meu cão querido, não resistiu, apesar do socorro veterinário.

O terceiro cachorro foi o que durou mais. Chamou-se Lyon, nome pouco criativo, é verdade, porém típico de cão. Já foi em tempos de adolescência. Eu jurei cuidar do cachorro, responsabilizava-me por qualquer um de seus deslizes, incluindo seus incomedidos processos fisiológicos borrões. Lyon era pra ser um Cocker spaniel cor caramelo, mas restou-me um pretinho. Seus pêlos eram negros feito carvão. Decidi que era ele mesmo que eu queria. Foram deliciosos anos. Ele era bastante inteligente. Ninguém acredita, mas eu chegava da escola, deitava no sofá, tirava meu tênis, e Lyon, sorrateiramente, levava meu tênis, um por um, da sala até meu quarto, e colocava o par bem juntinho. Era impossível não amá-lo. Mas eu pequei, eram raras as vezes em que eu o levava pra passear. Ele ficava meio solitário no quintal. Em casa, seus bolos de pêlos eram constantes, levitando no ar e se acomodando nos canteiros do chão. Apesar de cuidados extemporâneos, sofri um duro golpe: minha mãe deu Lyon para uma tia criar, sem aviso prévio para despedida chorosa. Foi um dos duros momentos de amadurecimento pessoal, na minha opinião. Meu único alívio foi imaginar que lá na casa dessa tia existia um campo aberto para ele correr e cadelas de várias raças para ele se divertir. Era um paraíso canino para ele, antes de seus últimos dias terrestres.

Três histórias com desfechos tristes, mas que me renderam amor aos animais. São histórias de vida, também. Por que sabemos bem o que a vida nos reserva em seu ciclo. E, assim, desde cedo, pude aprender.

Tiveram outros cães que me marcaram. Um em especial, de rua mesmo, é memorável. Ele, ou melhor, ela, que era uma cadela chamada Baleia. A personificação ideal e real da "Baleia" em Vidas Secas de Graciliano Ramos. Certas célebres vezes, andei, de madrugada, na retilínea rua São Francisco, em meu Juazeiro, sob luzes alaranjadas de postes. Baleia me acompanhava fielmente. Um assobio fazia-a correr. Era superprotetora na imensidão silenciosa da noite no centro da cidade. Acompanhava-me em cada passo. Se eu desse uma volta correndo no quarteirão, lá estava ela, de língua pra fora - assim como eu, de tão cansado - me acompanhando. Nostalgia marcante dessa época também.

O que me influenciou a contar essa história foi chegar em meu apartamento, ver um bichano da calçada me acompanhar, sentar na escada, e esperar receber carinho de mim. Pouco tempo depois, ronronou. Uma gata, sim, essa histórica inimiga declarada de cães, me fez escrever esse memorando canino. Lembrei nitidamente do quão bom foi minha experiência com cachorros. E, também, o quanto me faz falta ter um aqui, agora, pertinho de mim, cochilando perto de meus pés enquanto escrevo essa estória saudosa. A história de Marley & Eu, em triplicata, perde feio.
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