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Relógios

quinta-feira, 26 de novembro de 2009


Meu relógio memorável que marcou época.

Já pensou que aquele relógio que você usava inseparavelmente é um forte indicador das fases de sua vida? Ao ver fotos tiradas há uns 10 anos, eu ainda criança - logicamente - e lá estava aquele relógio digital clássico comprado no Mercado Central de meu Juazeiro do Norte por 10 reais. E nas fotos, você nem lembrava bem da sua idade, mas lembrava que usava aquele relógio e até hoje se lembra de suas limitadas funções. 

O relógio, que naquele tempo dava as horas, hoje nos dá a idéia do que acontecia naquela época. O primeiro relógio é difícil de esquecer, assim como o primeiro arranhão quando a gente lixa ele na parede sem querer e... ‘Droga! Esse arranhão vai acompanhar meu relógio a cada hora que eu olhar pra ele!’. E lembremos também de quando decidimos trocar o relógio digital por aquele analógico, principalmente aqueles com ponteiros que apontam não para os números, e sim para os tracinhos que substituem os números. Acho que se trata de uma versão light e chic de relógios e é bastante difícil a pessoa se adequar aos primeiros momentos com ele pra dar a hora certa. 

Já imaginou, você andando na rua, com seu relógio analógico de tracinhos, aí vem uma garota e pergunta as horas. Você tem que ter na cabeça o espaço geográfico de onde estariam os números que estão substituídos pelos duvidosos tracinhos. ‘Só um momento, por favor’. Nesse momento você pensa primeiramente que tem que dar a hora certinha se for uma garota 'simpática' que mexeu com seu 'simpático' (trocadilho biológico infame!), ou melhor, que acelerou seu coração, e aí tem que dar a hora certa mesmo, apesar do momentâneo descontrole emocional. Aí vem o segundo pensamento: ‘esse ponteiro grande tá 15 ou 20 pras 4, se é que o ponteiro pequeno tá apontando mesmo pra 4 ou pra 5.’ Esse dilema, que está aliado ao nervosismo do momento, faz parte do pouco costume no manuseio do novo relógio. 

De repente você se lembra do relógio digital antigo e arranhado, que era só ler o número e pêi-búfo! Ou então você pensa em olhar o movimento do sol pra dar uma hora aproximada. É amigo, você está numa sinuca de bico. Em toda essa reflexão, que deve ter levado uns demorados cinco segundos até você decidir responder as possíveis horas, das duas uma: ou a garota vai ficar p da vida por ter tomado muito tempo de sua vida e sair dizendo um frio ‘obrigada’, ou ela vai achar você fofinho ao ficar todo embaraçado pela situação que ela mesma criou. Mesmo assim você arrisca: ‘3 horas e 45... opa! 15 pras 4 da tarde!’. Nessa hora, a garota pensa, antes de dizer um delicioso ‘obrigada’: ‘claro que é tarde, não precisava dizer tarará 4 da tarde, ele pensa que não sinto o tempo?’. E pronto. O encontro marcado acaba aí mesmo. 

O dono do relógio analógico, depois disso, tudo que ele quer saber é da certeza da informação dada, ansioso por achar um relógio público na praça – de preferência digital – que confirme sua suposição. Depois você abandona o traiçoeiro analógico de pontinhos, ainda comprado por uma pechincha no Mercado Central da querida cidade, e troca pelo almejado relógio sport digital acoplado a relógio analógico, e que mede até a temperatura ambiente e dá a hora de outros países, a venda no Mercado Livre, pela internet mesmo. 

Este novo relógio pode ter vida curta, mas pode imortalizar mais uma fase de sua vida, que geralmente é a vida universitária, e vai ser antecessor do futuro rolex que você deve ter quando ficar careta o bastante pra mostrar à sociedade quem você não queria ser quando crescer, só pra ganhar esse negócio idiota de status.