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Essa nossa politicagem

sábado, 2 de outubro de 2010


Mais uma eleição vem chegando. Não tenho meus candidatos ainda. Aliás, nem vou votar. Não vou exercer meu direito de cidadão. Não que eu não queira, mas é que meu sítio eleitoral está a 560 quilômetros de onde estou agora. Justificarei meu voto. O que não se justifica é essa paspalhice em que se encontra nossa politicagem.


Tinha lá eu meus 17 anos quando votei pela primeira vez. Prefeito e vereador. Na minha cidade natal, predominava a mesma oligarquia de sempre. Sem noção certeira de cidadania e de voto justo, digitei algumas teclas e confirmei. Tinha votado na oposição. Como nas eleições precedentes, os velhos mandantes continuaram no poder, com o mesmo politiquismo de antes. Quatro anos depois, a oposição venceu, enfim, mas com a ajuda de alguns dos mesmos políticos de outrora. Por querer fazer um governo intitulado revolucionário, a nova gestão assustou a nova oposição e a comunidade. Com muito pouco apoio político e social, a prefeitura, que continua desde muito surrada, está perecendo. Os juazeirenses bem sabem: independentemente de quem assuma o poder político na cidade, ela não passa bem, obrigado. Infelizmente, esse é o panorama desolador da politicagem em Juazeiro do Norte, Ceará.

Mas a votação de amanhã, dia 3 de outubro, é para um presidente, uns tantos deputados estaduais e federais e alguns senadores desta republiqueta federativa do Brasil. Talvez por ter tantos candidatos concorrendo ao pleito é que aqui em Fortaleza esteja com suas principais avenidas inundadas pela imundície da panfletagem desregrada. O cruzamento da avenida da Universidade com a 13 de Maio está com um turbilhão de papéis no chão, no ar e nos esgotos. Os políticos, os mesmos que prometem mudanças para vivermos numa cidade sadia, emporcalham nosso lar com seus rostos risonhos e seus números estampados em seus milhares de santinhos de papel.

Para presidente, são quase dez candidatos. Mas, claro, você só escuta falar em Dilma, Serra, Marina e, estourando, Plínio. Se você assistiu à propaganda eleitoral gratuita, que de gratuita não tem nada, viu, ainda, os risíveis Eymael (com seu jingle "Ey-Ey-Eymael, um democrata cristão") e Levy Fidelix (com seu slogan do aerotrem) e os extremistas Zé Maria e Rui Pimenta, pouco lembrados. Os debates dos presidenciáveis foi razoável, sem confronto direto entre os mais votados. Dilma, vassala de Lula, gagueja e diz "eu acho". Serra é o sabichão, o cara de cara limpa e de pau. Marina é a eco-capitalista que tenta rimar desenvolvimento com sustentabilidade. Plínio, enfim, é o bom velhinho, auto-intitulado diferente dos outros três, mas que botou lenha na fogueira dos debates. São essas as opções de voto. A dúvida ainda está cruel? Nessas horas, faz-me falta o saudoso Enéas e sua bomba atômica.

As boas opções não param por aí. Para deputado, seja lá para o que for que sirva, há quem possa votar em Tiririca, Mulher Pêra ou Romário. Pensam, ou realmente têm certeza, que somos abestados por completo.

Para governador do Ceará, temos a provável vitória espetacular de Cid Gomes, acusado de falsas acusações, que se promoveu com maestria por meio de obras que já tinham que ser arquitetadas faz tempo e por meio da polícia destreinada e maquiada do Ronda do Quarteirão. Lembremos: o Ceará é o terceiro estado mais pobre do país e Cid teve um dos maiores gastos em campanha política entre todos os outros candidatos a governador de qualquer outro estado do Brasil. Enquanto isso, a atenção básica à saúde pede esmolas e, ao mesmo tempo, pasmem, projeta-se a construção do maior aquário internacional da América Latina em Fortaleza. Mas, inacreditavelmente, poderia ser pior se Collor fosse cadidato ao governo do estado do Ceará.

Os senadores, sem irem contra a maré, são os de quase sempre. Vou parafrasear o futuro ilustre ex-presidente e quiçá secretário-geral da ONU, nosso Lula, sobre dois candidatos medalhões do Ceará para senador: "Quem votar em um, vota no outro, e quem votar no outro, vota naquele." É como diz aquela censurada música paralâmica, Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou... E tudo continua no mesmo excremento de antes.

Como já dizia Humberto Gessinger, líder dos Engenheiros do Hawaii, na sua peculiar linha de baixo e em letras paradoxais emprestadas à história do rock nacional: "Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada (...) Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada. Toda forma de conduta se transforma numa luta aramada". Enfim: "A história se repete, mas a força deixa a história mal contada."